Alta do H. Santa Maria

Olá a todos!

Já vi que o meu papá andou aqui outra vez. Ora o maroto! Se me apanha desprevenido aproveita-se logo!

Tivemos alta do Hospital e regressámos a casa.

Agora com mais calma, vou contar o que se passou...

Tudo começou na Quinta-feira depois de almoço. A minha mamã achou que um passeio de carro me faria bem, pois não posso andar na rua, por motivos que já todos conhecem.

Lá fomos e ao fim do primeiro quilómetro começou a dar-me uma má disposição que vocês sabem lá!

Mais outro quilómetro e começa-me a dar umas voltas ao estômago  Bem, pensei para mim, está o almoço cá fora não tarda muito. Bem dito, bem feito. Arrrrggggggggg! Era almoço por todo o lado, era na cadeirinha, era no banco da frente, era nos vidros, era em todo o lado.

Voltámos  rapidamente a casa, para limpar tudo. Mas a minha má disposição continuava.

Comecei a tossir. Cada vez mais forte e mais demorado. As tantas já não fazia pausas entre tanta tossidela, foi quando a minha mamã se apercebeu que o melhor seria irmos para o IPO.

O caminho até lá chegar foi sempre a tossir. Já fazia um pouco de aflição. Assim que chegámos ao 7º andar do IPO, a Pediatria, fomos logo observados pela Dra de Serviço, que por sinal foi muito querida. Mandou-nos fazer um aerossol com adrenalina. E a partir daqui começou o descalabro:

Meia hora depois, estava ainda pior. A senhora da bata branca observou-me novamente e a cara dela esmoreceu no segundo seguinte. Rapidamente mandou chamar uma enfermeira que trouxesse mais uns remédios. Eu só tossia. Chamaram outra senhora de bata branca, para ajudar. Esta Dra, ordenou retirar todo o aerossol e dar adrenalina pura. Eu continua só a tossir e a começar a ficar muito vermelho. Notava-se que o ar entrava cada vez menos nos meus pulmões. Sentia a garganta a fechar-se. Chamaram outra enfermeira, com corticóides para me darem na veia. Comecei a ficar com os lábios roxos e as pontas dos dedos. Já não conseguia chorar, nem tossir. Tentava ao máximo fazer uma força descomunal para que o ar entrasse pelo nariz sem qualquer efeito. O meu abdómen já ia todo para dentro do esforço inglório. Chamou-se outra enfermeira com uma máscara e mais corticóides. Neste momento já tinha todo o pessoal da Pediatria de volta de mim. Mas eu não melhorava. A minha mamã já chorava pelos cantos, tentando fazer-se de forte, mas sem conseguir. Previa-se o pior, e a Dra sabia que ali não havia condições para fazer mais. Toda a gente estava a dar o seu máximo.

Começava-se a juntar uma multidão de pais dos outros meninos internados, tal não era o alarido que se estava a instalar. Chamou-se o inem e a equipa de reanimação que veio prontamente. Nesta altura, por ordem da Sra, Dra, do Inem, já fazia dose de cavalo de corticoides e adrenalinas puras seguidas. Contei pelo menos 5, que fez disparar o meu coração até as 180 batidas por minuto. Por esta altura já estava envolto num mar de gente, que não era nada bom. De repente só vejo uma das senhoras da bata branca mandar um berro aos espectadores todos, dizendo que aquilo não era um filme, para irem para o pé dos filhos deles.

Ela própria emocionada, dizia a minha mãe que ele teria de ser transferido o mais rápido possível, para os cuidados intensivos do Hospital Santa Maria. Ali infelizmente não havia os meios técnicos necessários à monitorização desta situação. Entretanto com o casaço extremo apaguei. Os medicamentos começaram a fazer finalmente efeito, e eu mais estável, lá me meteram na ambulância. Chegámos a prever o pior, mas o internamento no Santa Maria ajudou-me imenso, e claro vocês também.

Agora segunda-feira volto ao IPO para nova avaliação e analises.Venci esta batalha, que não estava nada a espera, e foi muito, muito dolorosa. Muitas outras ainda virão, infelizmente. Vamos lá ver!